segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Professora Lena e os Jogos Cênicos

Este trabalho iniciou a partir da pratica com alunos deficientes intelectuais, em uma Escola Especial do Estado do Paraná. Ao iniciar nesta turma, foi percebido que além da deficiência, havia várias dificuldades na socialização, na linguagem, na auto estima e principalmente na sua autonomia. Relacionei este fato com minha experiência anterior, onde trabalhava com oficinas de teatro para docentes, e nestas oficinas, as alunas relatavam as dificuldades dos seus alunos da rede regular em expressar-se, em reter a atenção, ser criativos, no comportamento, entre outras. Então pesquisei os jogos cênicos que desenvolvia com elas e as habilidades que eram trabalhadas neles. Comecei a voltar estes jogos cênicos para as necessidades dos alunos e criei uma oficina especifica para trabalhar a cognição e o comportamento. Percebi que poderia ajudar meus alunos da Escola Especial com os jogos cênicos. Apliquei gradativamente na rotina escolar, alguns jogos.No inicio um jogo demorava em média uma hora para ser aplicado e aproximadamente três dias para ser compreendido por eles, o que exigia a escolha de dar conteúdos acadêmicos ou trabalhar as funções necessárias para a compreensão e apreensão dos conteúdos. Foi uma escolha dolorosa, afinal, o tempo na escola é precioso, mas foi uma escolha certeira. Hoje os alunos demonstram com facilidade seu crescimento, não estão dissertando e nem escrevendo grandes textos, pois sua deficiência os impossibilita, mas estão mais felizes, gostam de estar ali fazendo os jogos e estudando, estão abertos a novas aprendizagens, estão atentos, memorizam melhor, estão maduros e estão demonstrando um nascimento de uma autonomia que antes não existia.
Os jogos cênicos são inúmeros, aqui detalhamos alguns cabíveis para a pratica. Mas há muitos outros, o professor é quem deve buscá-los. Atualmente há poucas publicações na área, mas temos autores da área do teatro que estão voltando suas teorias para a escola

OBS: Não copiem ! Se copiar, por favor referencie, pois foi com muito estudo e muita dedicação que consegui escrever sobre o tema.

FONTE:
SOCZEK, Maria Elena.
JOGOS CÊNICOS COMO INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA PARA DEFICIENTES INTELECTUAIS . IBPEX, Curitiba, 2010.

IDENTIDADE: CONHECENDO A SI MESMO E AO OUTRO

A identidade de um individuo é definida por uma soma de influências sociais, interação com o meio, referências que definem sua personalidade, características particulares que o formam, o que os torna únicos. Se defendemos a identidade do individuo, não podemos ter a homogeneidade como parâmetro, é permitir que cada um seja diferente do outro, que cada um tem suas características próprias, seu ritmo, sua maneira de aprender.

O Jogo Cênico realizado para construir uma personagem no teatro, pode ser usado como intervenção para a construção da identidade do aluno. Os alunos deverão ser avisados antecipadamente para realizar pesquisa sobre o significado do seu nome e descobrir o porque foi dado este e não outro, caso tivesse outro nome, que mudanças teria, seria igual, o que modificaria. Complementariam pesquisando também pra que existe um nome, para nos referir a pessoas e “coisas”, qual a função social e histórica. Então é aberto uma discussão sobre os nomes dos alunos da sala, do porque temos um nome, fazê-los perceber que cada um tem um nome por algum motivo (podendo ser não declarado ou esquecido). Depois mostrar quão personagens somos, como desde o nome escolhido nos indicam o que ser e o que fazer, e que por mais diferente do desejo familiar, temos personalidade e vestígios de um ser social que foi construído por alguém. Somos personagens, e vivemos o interpretando papeis.

Outra atividade importante para construção da identidade do aluno é intervenção sobe um olhar da autopercepção, de compreender a si mesmo. Criar um tempo para refletir sobre nós, quem somos? De onde somos ? De onde viemos ? para onde vamos ? O que fazemos no tempo livre ? Esta atividade busca nos entender como Humanos. Porque a partir do momento que nos analisamos, refletimos sobre nos, e nossas ações, podemos compreender quem somos, o porquê tomamos determinadas atitudes, porque reagimos e tal forma, descobrir quais são nossas potencialidades, e quais são nossas limitações. Numa próxima etapa, os alunos responderão em uma folha, sobre seu aspecto físico (idade, aparência geral, maneira de caminhar, maneira de sentar, características da voz, tiques e defeitos físico), sobre seu aspecto social ( nome, nacionalidade, lugar onde vive, classe social, profissão, educação, lugar que ocupa no meio social, relacionamento com a pessoa amada, relacionamento com pessoas em geral, relacionamento com outras pessoas, o que acham de mim a primeira vista, o que acham de mim depois que me conhecem) e sobre os aspectos psicológicos (temperamento, objetivo de vida, atitudes frente a vida e seus problemas, normas morais, reação diante de obstáculos, identidade sexual). Caso o aluno ainda não domine a escrita, podem ser feito através de desenhos ou mesmo de apresentação livre (não obrigatória). Caso o grupo tenha certa maturidade, pode ser feito atividades a partir desta, como a de construir um personagem segundo as características do outro. Faz-se um sorteio dos questionários entre os alunos, e deverão ler, pesquisar como deve ser esta pessoa, e depois interpretar para o restante do grupo.

Após trabalhar a identidade do aluno, devemos trabalhar o respeito a identidade do outro, o conhecendo. Os alunos poderão sentar-se frente a frente, a distância de um metro. Marcar-se um tempo, para que olhe para o companheiro a sua frente, após um barulho pré-estipulado deve virar-se de costas e a orientadora irá sortear alguém para contar como o outro está vestido, a postura dele, cor dos cabelos e olhos, jeito de olhar, traços faciais, acessórios, roupas. Nisto irão trabalhar a memória visual, a improvisação, a criatividade, e a responsabilidade de perceber o outro de forma adequada ao ambiente.

Os jogos cênicos de improvisação e a Escola

Os jogos cênicos de improvisação são usados para auxiliar as expressões gestuais e vocais, utilizando situações cotidianas, ou até mesmo simulando situações para organizar as idéias e as formas de como resolvem os problemas da vida diária.

Uma atividade de improviso muito utilizada para trabalhar a criação, seqüência e repertorio, é onde um aluno é convidado a dizer uma palavra, e as outras devem falar rapidamente uma outra que esteja relacionada com ela. Deve ser feita com rapidez e agilidade e as palavras devem estar relacionadas, como quando um diz “verde”, outro diz “grama” o próximo diz “pasto”, o próximo diz “vaca”, o próximo diz “leite”, e assim por diante, o importante é que tenha uma certa seqüência lógica e a ultima palavra deve estar relacionada com a próxima. No inicio os alunos tem muitas dificuldades para lembrar de imediato, então deve ser dado o tempo que o aluno necessitar para que responda, o importante é que ele compreenda o que deve ser feito e participe, para também se desenvolver.

Outra atividade é o de mímica, deve ser feito recorte de imagens de objetos, e mostrada para um dos alunos e os demais devem adivinhar a partir da sua mímica. Cabe ao aluno representar, tentar identificar as características daquela imagem, para poder ser compreendido pelos outros.

Um jogo cênico importante no processo de improvisação e criação, é o de dar significado diferente para objetos habituais. Pode ser disponibilizado inúmeros objetos dentro de uma caixa, e cada um deve ir a frente dos demais, escolher um objeto e representar de forma diferente. Por exemplo se escolher um balde, ao invés de utilizar como habitualmente para colocar água utiliza-se então para colocar na cabeça e imitar um soldado. Com isso utiliza-se a criatividade para criar novas funções para as coisas, novas possibilidades.

O “Jogo de rapidez dos reflexos”, é um Jogo Cênico descrito por Olga Reverbel, onde trabalha-se a expressão oral e a fluência verbal. Ela o descreve assim:

· Grupos de dez alunos.

· O professor repete um conjunto de silabas: bra... bré... bri... bró... bru...; cra... cré... cri... cró... cru...; pla... plé... pli... pló... plu...; fla... flé... fli... fló... flu..., etc. (Aproveitar o tipo de sílaba para trabalhar as dificuldades apresentadas na leitura em aula).

· Um aluno aos outro deve dizer uma silaba. O professor propõe um ritmo (acelerado, normal, lento).

· Os mesmos conjuntos de sílabas podem ser ditos cantando.

· Os mesmos conjuntos, em voz muito alta.

· Os mesmos conjuntos, em voz de segredo.

· Os mesmos conjuntos podem ser repetidos expressando sentimentos (alegria, dor, medo, etc) ou sensações (frio, calor, etc) (REVERBEL, p. 45, 1993).

DEFICIENCIA INTELECTUAL E OS JOGOS CÊNICOS: AS INTERVENÇOES

DEFINIÇÕES


Para definir esta terminologia desmembramos as palavras; deficiência segundo o dicionário Aurélio de 2004, significa “falta, falha, carência, imperfeição, defeito, insuficiência”. A pessoa com alguma deficiência tem restrição para executar determinadas atividades da vida diária, há um impedimento mental, físico, sensorial, orgânica ou associado, podendo ser permanente ou transitória. E a palavra intelectual tem em seu significado, capacidade de aprender, perceber adaptar-se, entender, interpretar, entre outras características.

A décima edição da Classificação Internacional de Doenças, tem como finalidade classificar as doenças e problemas relacionados à saúde. Dentro do CID 10, a deficiência intelectual é nomeada como Retardo Mental, sob o código F70 até o F79. Descreve o Retardo Mental como:

Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independente(...). Este agrupamento contem as seguintes categorias: F70 Retardo mental leve; F71 Retardo mental moderado; F72 Retardo mental grave; F73 Retardo mental profundo;
F78 Outro retardo mental; F79 Retardo mental não especificado.

( CID10 apud PSIQWEB, 2010).

Aparentemente definir os termos parece fácil, mas não é o mesmo para definir a pessoa deficiente, como ocorre a aprendizagem para ela, como deve ser o ensino diferenciado, já que há algumas restrições que o caracteriza diferente dos demais, como é a construção do seu conhecimento e como demonstram o que aprenderam.

As capacidades intelectuais do ser humano, como a espontaneidade, a imaginação, criatividade, disciplina, a observação, o ritmo, a percepção e a socialização, são inatas em todos, não é apenas para a pessoa com deficiência, por isso a necessidade de praticar atividades que desenvolvam estas características, para que estas habilidades tornem-se presentes.

Os Jogos Cênico não são fins, mas sim meios para que o professor possa intervir com seus alunos, somando com seu trabalho acadêmico.